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Comecei este texto inúmeras vezes…escrevi, apaguei, escrevi, apaguei…o que dizer?

Hoje é um dia muito triste na vida de uma grande amiga, da minha companheira de prematuridade. A única pessoa na minha vida que viveu e sentiu exatamente o que eu vivi e senti. Nossos filhos nasceram tão cedo, mas tão cedo, que somente a medicina de última geração, unida a mão de Deus, puderam salvá-los. Se nossos filhos tivessem nascido há 10 anos, provavelmente não estariam aqui, mas assim como tivemos uma história de vitória, ela viveu o inimaginável, a perda do seu segundo bebê, novamente devido a prematuridade.

Como amiga, me culpo muito. A prematuridade lida com um grau enorme de culpa, mesmo quando não fizemos nada de errado pessoalmente.  A sensação de impotência que ela gera, causa esta culpa que não vai embora. Sinto isso com relação a minha própria história, como quanto a experiência da minha amiga.

Quantas vezes conversamos e falei que tudo ficaria bem? Quantas vezes me enchi de otimismo e falei que já já ele receberia alta, iria para casa? Lembro de uma noite em especial: coloquei Bella para dormir e deitei ao seu lado no quarto escuro para conectar a internet e saber noticias da minha amiga. Recebi fotos, conversamos sobre os acontecimentos do dia na UTI neonatal e lembro de ter dito que ele estava tão bem, tão gordinho, tão forte, que eu previa que ele sairia do hospital muito antes do que seu irmão ou a Bellinha, que passaram longos meses na UTI. Eu tinha absoluta certeza que tudo daria certo, mesmo sabendo de todos os desafios médicos que vivi com Bella e com a consciência que a vida de um prematuro na UTI Neonatal é uma montanha russa, mesmo assim eu tinha a certeza que tudo daria certo.

Mas e quando a vida escreve o final que você não previu?

E quando o inimaginável acontece com alguém que você ama e você não sabe o que sentir, o que dizer, como processar esta perda que não é sua, mas você sente como se fosse?

A prematuridade não é entendida a menos que você a viva, ela não será combatida a menos que haja uma maior conscientização dos perigos que ela traz e das consequências avassaladoras que ela deixa para a familia e sociedade quando ela deixa sequelas graves na criança. A medicina está avançando, sabemos disso, e graças a ela a minha amiga e eu temos nossos pequenos prematurinhos vivos conosco, mas a perda do nosso menino revolta e amargura a gente.

Por que ele nasceu tão cedo?

Por que o tratamento não deu certo?

Por que a cirurgia que deveria tê-lo salvado não o salvou?

Como uma mãe e um pai podem aceitar este destino e seguir em frente?

Não temos estas respostas, ao menos não as que gostaríamos de ouvir.

Uma coisa, porém, é certa: o legado que Daniel deixou foi da importância da esperança.

O que é a vida sem esperança?

  • A esperança de que tudo dará certo….. mas se não der, temos nossos amigos para nos dar colo e nos fazer sorrir novamente.
  • A esperança de que todos os bebês tenham a mesma chance de nascer e viver saudáveis.
  • A esperança que a medicina avance e com ela os diagnósticos de problemas “in utero”, para que o bebê não precise sofrer fora dele.
  • A esperança de que os que estão perto de nós entendam a dor que a prematuridade traz e a dor de ver seu bebê tão doente. Há muitos que entendem e são solidários, mas a grande maioria não compreende e se mostra insensivel a esta dor.
  • A esperança de que apesar de tudo, tudo vale a pena. Vale a pena tentar, vale a pena arriscar, vale a pena contrariar a que os outros dizem, com a esperança de que tudo dará certo (minha amiga….).

Querido Daniel,

Hoje é o primeiro aniversário da sua partida e como a sua ausência dói na gente. Seus pais tinham tantos sonhos para você, tanto amor para dar, tantos projetos de vida junto ao seu irmão, tantas coisas lindas que foram bruscamente apagadas. Me pego pensando em como admiro a força inesgotável da sua mãe, esta pessoa tão importante para mim, tão especial na minha vida…..como eu gostaria de estar junto dela no dia que você partiu e em todos estes 365 dias que eu sei que ela derramou tantas lágrimas por ti.

Os seus pais passaram pela jornada da prematuridade duas vezes e esta luta que eles lutaram não só por ti mas pelo seu irmão, é prova de que o amor de um pai e uma mãe nunca cessa, nem mesmo com a morte. Ele se transforma, se renova, floresce através das memórias inesquecíveis que ficaram e da certeza que um dia todos nós nos reencontraremos em um novo plano.

A sua vida, mesmo que tão injustamente tirada de nós, foi muito importante para os que conheceram você, guardam a lembrança do seu rostinho e sua incansável luta pela vida , nos enche de força e motivação para sermos pessoas melhores, merecedores desta dádiva que é viver.

Ter a benção de acordar, respirar, saber que estamos vivos e temos um dia pela frente…que grande presente é viver.

Foi uma honra acompanhar a sua história e ter a benção de fazer parte da sua família, de receber a amizade tão pura e sincera da sua mãe.

Que Deus te guarde com todo o amor que sabemos ser merecedor e que o seu espirito de luz e paz olhe por aqueles que tanto te amaram, que para sempre vão te amar.

Com muito amor e lágrimas muito sentidas,

Tia Rita

 

Sempre que ouço esta musica, lembro do nosso menino e da sua luta e da luta de seus pais.

2 Comments on Ao Daniel, com amor

  1. Mercia Correa
    03/10/2016 at 3:24 am (7 years ago)

    Sem palavras Amiga! Obrigada por essa homenagem tão linda! Estivemos juntas todos esses cinco anos, desde o Luquinhas!
    Me lembro muito das nossas madrugadas de fotos do Dani! Hoje apesar da tristeza, sinto uma paz, pensando que ele está num lugar lindo, ao lado do Papai do Céu! Ele é nossa estrelinha!
    Te amo!
    Beijo

    Reply
  2. Andre
    04/10/2016 at 1:10 am (7 years ago)

    Muito obrigado pelo carinho de sempre, querida! Nosso anjinho cuidará lá de cima sempre do Luquinhas e da Bella! Obrigado por estar sempre presente nos momentos importantes. Beijos

    Reply

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