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Gosto muito dos livros do médico psiquiatra e psico-terapeuta Augusto Cury e, embora haja um grande preconceito contra suas obras, entituladas como auto-ajuda, termo que eu repudio, os seus livros sobre educação são sempre de muito valor para mim, deixam uma reflexão muito importante para os dias atuais.

Acabei de cruzar com uma entrevista ótima que o médico deu há pouco tempo, em que discorre sobre vários assuntos, dentre eles a infãncia. Se você tem filhos, rapidamente entenderá o que ele expressa com o termo “Sindrome do Pensamento Acelerado”:

” A situacao é gravissima. Tenho alertado sobre o assassinato coletivo da infãncia. Todos somos contra o trabalho escravo, de crianças que trabalham em minas, por exemplo, sujas, sem o direito de estudar, de brincar, de ter a formação da personalidade saudável. Mas o que nós não denunciamos no mundo todo e que há um trabalho intelectual escravo legalizado nas famílias classe média, classe média alta e ricas. Milhões e milhões de famílias atolam seus filhos em tantas atividades que eles não tem tempo de serem crianças, de ter aventuras na adolescência.

Estão gerando, coletivamente, a síndrome do pensamento acelerado.

Uma criança de 7 anos de idade tem , provavelmente, mais informação na atualidade do que o imperador tinha no auge de Roma. Isso não é suportável, esgota o cérebro.”

Esta triste constatação não é exagerada. Não se fores mãe de uma criança pequena ou adolescente atualmente. Verás que na ãnsia de proporcionar tudo o que queremos, tudo, quem sabe, que não tivemos e hoje gostaríamos para nossos filhos, estamos criando agendas tão ocupadas quanto as nossas, de adultos. Confesso que minha filha vinha fazendo 3 atividades extra-curriculares, mas ao observar certos comportamentos na minha menina, a tirei de duas, e estou considerando tira-lá da terceira, deixando-a sem nenhuma atividade extra-curricular neste momento.

Sim. Pasmem.

Sem esporte, sem dança, sem música, sem “nada”. Abrindo a agenda para ela ser…..criança.

Os pais não agem desta forma por querer, eles não tem o intuito de sobrecarregar os filhos, eles apenas não se dão conta. Décadas atrás quando nossos pais nos criavam não era assim, a sociedade não era tão competitiva. Atualmente há competição e ela já se inicia na pré-escola, algumas vezes até na fase de bebê da criança. Lembro de minha filha ter 6 meses de idade (lembrando que destes 6 meses ela nasceu 4 meses prematura, portanto na realidade ela tinha a idade ajustada de 2 meses), e uma vez uma desconhecida veio conversar comigo e perguntou: “Como assim o seu bebê não faz natação ainda.”

Me poupe…menos, muito menos, tá querida?

Quem já sabe ler? Mesmo que estejamos falando de crianças de 4 anos?

Quem já está dando piruetas no balet? Mesmo que ainda nem tenha saido das fraldas?

Quem já esta no nível x do cursinho de inglês?

É triste, mas é assim, e ilude-se quem acha que tanto os adultos quanto as crianças não são afetadas com esta competição de porta de escola. Levante a mão você mãe que já se sentiu menosprezada por não ter seu filho no “combo” natação/balet/inglês?

A cultura atual exige que nossas crianças se preparem academicamente para o futuro, sem nos darmos conta do preço que elas estão pagando por isso. Menos brincadeira, menos tempo para pensar e aprender a resolver problemas, pois é através da brincadeira que a criança aprende. Menos tempo de desenhar e colorir, menos tempo de por para fora sentimentos guardados lá dentro. Menos tempo de correr e pular, menos desenvolvimento de auto controle…e por aí vai.

Nossos filhos estão cansados, esgotados de tanto corre-corre na rotina diaria, e este esgotamento se mostra através de choros, de mãnhas, de preguiça, de dor de cabeça. São sintomas fisicos que afligem pequenos corpos e mentes que não deveriam estar sobrecarregados como estao.

Estou mexendo meus “pauzinhos” e tentando organizar minha rotina de uma maneira que minha filha e eu possamos chegar em casa mais cedo da escola. Vejam bem, aqui no Canadá as criancas entram na escola as 8:30 da manhã e saem as 3 da tarde, é um dia extremamente puxado para não só aprenderem, mas também seguirem regras. Imaginem o cansaço que da você ser pequeno e ter que usar seu auto-controle por quase 7 horas seguidas. Ter que se comportar brilhantemente, ter que seguir regras por tantas horas a fio? Estou procurando organizar minha rotina de trabalho de uma maneira que possamos chegar em casa um pouquinho mais cedo no final do dia, para podermos revisar o que aprendeu em aula (dever de casa, ainda por cima), mas logo depois permitir que ela possa brincar a vontade sem maiores compromissos.

Nao é facil, mas às vezes nossos sonhos de vermos nossos filhos brilhando em um esporte, dança, música ou o que mais seja, tem que ser abdicados ao menos por alguns anos, para que eles possam fechar o ciclo da infância. Este ciclo não poderá ser finalizado se tirarmos bruscamente o direito de brincar e de ser criança, em prol de sonhos adultos ou competição de porta de escola. Não me refiro a simplesmente tirar totalmente toda e qualquer atividade das crianças, mas usar muito, muito cuidado em perceber quando nós, pais, estamos exagerando.

Obrigada Augusto Cury, por novamente trazer os pais para esta reflexão tao necessaria atualmente.

 

 

7 Comments on “Sindrome do Pensamento Acelerado”

  1. Pamela
    14/03/2016 at 7:15 pm (7 years ago)

    Eu tenho amor imenso pelas suas descobertas e seu olhar atento às necessidades da sua relação com a Bella. #apaixonante força para todas nós tentando fugir da “corrida de ratos”

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    • rita
      14/03/2016 at 7:21 pm (7 years ago)

      Não é fácil, a pressao é muito grande, mas se ao menos os pais tiverem consciencia, prestarem atencao, fica um pouquinho mais facil ne?
      Beijinhos
      Rita

      Reply
  2. Fabiane
    14/03/2016 at 7:40 pm (7 years ago)

    Rita, realmente acredito que ter “tempo” é o grande lance. Eu e meu marido, temos tido muito cuidado com a quantidade de compromissos que arrumamos para nós e os pequenos tbm. Como vc disse, exige bastante vontade, sacrifícios, e cada pessoa sabe o que é melhor para sua família. Aqui optamos por ter dias mais calmos e finais de semanas mais calmos tbm, com atividades que os deixem calmamente aproveitar o que fazem. Nós escolhemos que eles sao prioridades e faremos o possível para proporcionar isso pra eles 🙂

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  3. Mamãe Nádia
    15/03/2016 at 2:27 am (7 years ago)

    Eu amo o Augusto Cury e a síndrome do pensamento acelerado é uma realidade, atinge até nós adultos, porcausa das tecnologias que usamos hoje.
    Eu tb nunca gostei de criança tendo muitos compromissos e atividades, os meus meninos quando eram menores não faziam nada. Sempre estimulei o brincar. Mas agora que eles estão grandes, que saíram da primeira infância, a coisa mudou. Eu vejo que agora é bom eles fazerem atividades úteis, praticarem esportes pra se manterem ativos e exercitar o outro lado do cérebro com a arte e música. São atividades importantíssimas que são pouco trabalhadas na escola, por falta de tempo, e na fase em que meus filhos estão, se estiverem parados em casa eles só querem ficar no computador, video game, televisão. Então acho muito melhor sairmos de casa e fazer uma atividade útil por uma hora. Quanto maiores eles forem ficando mais eu quero ocupar eles com atividades assim, não quero filhos adolescentes preguiçosos e vagais dentro de casa… Entre ficar à toa no computador prefiro que vão praticar um esporte ou tocar um instrumento. É questão de faixa-etária. Precisamos ter uma postura na infância e outra na pré-adolescência. E eu acho que já estragamos os nossos filhos quando entregamos um ipad tão cedo nas mãos deles… O ipad pra mim é o maior assassino da infância de hoje em dia, e a ferramenta que mais produz o pensamento acelerado. Se eu pudesse voltar atrás não tinha nunca deixado meus filhos usarem ipad. Hoje já dei um fim, mas é tarde demais!

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  4. Fernanda
    16/03/2016 at 2:40 am (7 years ago)

    Ótimo! Obrigada, Rita.

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  5. Ela
    17/03/2016 at 5:35 pm (7 years ago)

    Rita, vejo isto todos os dias. Tem um detalhe que eu acho importante de ser mencionado. Os pais também colocam os filhos em várias atividades para se verem livres deles por mais uns momentos. OU por necessidade, por estarem trabalhando, ou por que é difícil mesmo achar coisas interessantes e diferentes para fazer todos os dias. Eu abdiquei do trabalho por uns anos para ficar com meus dois filhos (que tambem nasceram prematuros) e é muito cansativo e as vezes estressante. No meu caso, apesar das dificuldades, tenho conseguido. Vamos variando as atividades durante a manhã e eles vão apenas à tarde para a escola. Não estão ainda em nenhuma atividade extra classe, mas a pressão para isso é grande! Até da pediatra. Eles tem 4 anos e 10 meses.

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  6. Ela
    17/03/2016 at 5:40 pm (7 years ago)

    Só gostaria de dizer que não estou julgando ninguém, de forma alguma. Pelo contrário, acho muito difícil viver em uma grande cidade e proporcionar atividades legais para as crianças. É tarefa árdua.

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