É interessante como ninguém fala sobre a possibilidade de um parto prematuro. Lógico que ninguém quer isso para si e como meio de se proteger empurra este assunto para dentro da gaveta para não pensar mais nele e assim tentar evitá-lo a todo custo.
Tive uma gravidez sem grandes complicações, apenas dores por causa de um mioma no útero, que todos diziam não interferir em nada com a gravidez. Demorei a começar a engordar, culpa dos danados enjôos de início de gravidez, mas quando finalmente comecei a barriguinha se transformou em um barrigão.
Como toda mãe nos dias de hoje, acompanhava o crescimento do bebê a cada semana com emails recebidos do site baby center, e lembro do meu marido dizendo quando enviei a ele o email com o crescimento do bebê com 24 semanas: ” Ufa, finalmente chegamos a 24 semana, ótimo sinal”. Sabíamos que o limite médio para um bebê sobreviver fora do útero era de 24 semanas. Por que sabíamos disso? Será que já estávamos nos preparando inconscientemente para o que estava por vir?
Vinte e cinco semanas e chegou o grande dia do ultrasom 3D. Ai como eu curti a função de pesquisar sobre a clínica, marcar a hora certa para o ultrasom, como eu queria ver o meu bebê de perto! Mal sabia eu que em menos de 48 horas veria o meu bebê ao vivo e a cores com apenas 25 semanas de gestação, 15 semanas antes do esperado.
Ninguém sabe até hoje por que Bella nasceu tão prematura. Nem prematura ela era considerada, usavam o tão temido termo micro-prematuro, ou prematuro extremo. Existem algumas teorias para o seu nascimento 15 semanas antes do previsto, mas absolutamente nada comprovado.
Vale destacar o seguinte:
– Não tinha feito o curso pré natal ainda.
– Não sabia absolutamente nada sobre parto normal (ou cesárea).
– Não tinha a malinha da maternidade pronta, nem a minha e nem a do bebê.
– Não haviamos sequer decidido o nome completo do bebê ainda.
E puf! Eis que esta mãe que vos fala estava deitada dentro de uma ambulância sendo transferida para um hospital melhor equipado para dar à luz ao seu bebê micro prematuro antes do previsto. Não apenas algumas semanas prematura, mas incríveis 15 semanas. Em choque, lembro de exatamente tudo o que aconteceu nas horas que antecederam o nascimento da minha filha mas ainda não entendo como aquela paz prevaleceu dentro de mim, não me apavorei, não chorei, não gritei um ai durante o parto normal sem anestesia.
Cheguei ao hospital com 3 centímetros de dilatação e em apenas uma hora já estava com 10 centímetros. É interessante ver a comoção que um parto assim gera, a loucura de médicos e enfermeiros tentando evitar o parto, e quando isso é impossível, tentando entender a melhor forma de lidar com ele.
Fui transferida para um outro hospital que era melhor equipado para acolher um prematuro extremo.Chegando lá, fui atendida imediatamente por um médico que gentilmente respondeu a minha pergunta hilária: “Doutor, como é que a minha filha vai nascer?”. Lembrando disso agora até soa engraçado, de tão mal preparada que eu estava.
Quando estava grávida discursava para o meu marido como eu não queria ter parto normal e como não queria ninguem dentro da sala de parto. Absolutamente tudo aconteceu diferente do que eu imaginei. Sim, eu tive parto normal, não, não doeu como eu achei que doeria, não eu não quis tomar anestesia, sim, tinha não só gente dentro do quarto mas 15 profissionais entre médicos e enfermeiros e NÃO…eu não me importei um minuto que tudo aconteceu do jeito que aconteceu. Naquela hora a minha missão era trazer a Bella ao mundo o mais rápido possível sem gritaria ou estresse, para que pudesse ser socorrida pelo melhor time de médicos da cidade (e que time!).
Bella nasceu em 1 hora e depois de 3 contrações! Quando lembro do parto tenho muito orgulho da minha calma e da minha força de vontade. A chefe da equipe de neonatologia do hospital disse que nunca presenciou um parto tão tranquilo e silencioso. Viva eu!E olha que eu nem sabia empurrar! Sim, pois existe um jeito certo de se empurrar, que teoricamente o curso pré natal ensina.
Só posso agredecer a mãe natureza que fez questão de tomar conta de mim e de gentilmente me colocar em choque para eu poder passar por esta experiência sem grandes traumas. E assim foi.
As semanas que se passaram foram infinitamente mais difíceis do que o parto em si.
A UTI Neonatal é um lugar mágico e perturbador, onde sente-se a constante presenca de anjos transitando por entre os bebês. Anjos de verdade e anjos vestidos de médicos e enfermeiros que zelam pela saúde e bem estar daqueles seres que mal podem ser chamados de bebês ainda, mais se parecem com fetos vistos em imagens de ultrasom.
Bella passou 138 dias internada na UTI neonatal do hospital de Calgary, Canada.
Estes 3 meses e meio trouxeram aprendizados, sofrimentos e alegrias que jamais serão esquecidas, e para dar o devido valor a estes momentos únicos, reservarei outra ocasião para escrever sobre elas.